Porvir

 

AMANHECER_LUA_CHEIA

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Ter amanhã nem sempre é ter futuro.

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Desconcordância

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ImagemQuando criança,
Brincava muito de jogo da memória.

Hoje me arrependo de não conseguir esquecer certas coisas…

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Como deve ser

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Era com um olhar perdido que prestava atenção nas palavras que ele balbuciava. Ela era daquele tipo de mulher que se diz forte demais para chorar na frente de alguém. Mas por vezes, algumas lágrimas ameaçavam cair e entregar tudo que estava sentindo. Não queria que todo mundo daquela praça de alimentação presenciasse o que se passava. Agora ela entendia porque ele havia marcado de encontrar no shopping. Não combinou de busca-la em casa como de costume. Vez ou outra olhava em volta para verificar quem estava observando. Mas tentava manter os olhos sempre voltados para ele, como se prestasse atenção. A vontade que tinha mesmo era de sumir dali. Nunca havia se sentido tão mal em um ambiente. Não era a criança chorando, o barulho dos talheres, o volume sufocante das conversas ou aquele rapaz que não parava de olhar. Era ela. Era o momento. Era ela naquele momento. Constrangedor. Será que aquele rapaz estava entendendo o que se passava? O que será que ele iria fazer se ela desabasse? O que ele estava pensando dela? O que sua mãe iria pensar quando soubesse? Aliás, como contaria para sua mãe? E todo o resto da família que estaria presente no churrasco do fim de semana, os tios brincalhões, os sobrinhos que, com certeza, perguntariam algo… O que ela iria fazer? O que iria fazer com o presente de natal comprado antecipadamente?

Olhou para a sacola ao lado. Arrependeu-se profundamente de ter chegado mais cedo do que o horário combinado para passear nas lojas. Pensou em jogar aquela sacola no rosto de onde viam aquelas palavras sem fim. Pensou em se esconder dentro da sacola. Olhou para ele de novo. Tentou manter o olhar fixo enquanto ouvia. Era difícil apenas ouvir. Parecia entender tudo que ouvia, mas não assimilava nada do que era dito. Pegava algumas palavras chaves, mas sabia bem o rumo que aquela conversa teria. Tentou manter o olhar. Segurou um soluço. Imaginou quanto seus olhos deviam estar vermelhos. Olhou para aquele rapaz que, sentado de frente a ela, ainda observava. Pensou se ele havia reparado em seus olhos vermelhos. Teve medo de chorar ali com a praça de alimentação lotada. Por que marcar na praça de alimentação justamente no horário de almoço? Lembrou: ele teria que voltar ao trabalho, tinha que ser durante o intervalo. Não, não podia chorar.

Não iria chorar. Era uma mulher forte como sua mãe lhe ensinara. Não chorou quando seu cachorro morreu e quando seu pai foi embora. Nem quando sentiu aquela dor insuportável no peito e foi levada ao hospital. Aprendeu a segurar toda dor e qualquer emoção. Lembrou-se de tudo isso e segurou um outro soluço. Engoliu seco. Ele ainda estava falando. Não entendia porque ele sentia tanta necessidade de explicar tudo. Ela não queria saber. Ela não queria saber de mais nada. Queria sumir por algum tempo. Viajar… E a viagem programada para o final do ano? Como iria fazer? Eram tantos planos que precisavam mudar…

Agora, na sua mente perdida, alguma coisa começava a fazer sentido. O encontro marcado de última hora no shopping, aquelas sumidas repentinas nos finais de semana e as ligações estranhas no celular. Tudo começava a fazer um pouco de sentido, mas ela ainda não conseguia entender. Não acreditava. Ficava olhando para aquele ser que, diante de seu rosto, era corajoso demais para dizer tudo aquilo. Corajoso somente nessas horas, porque o que fez, para ela, era uma atitude bem covarde. Será que ele não pensou nela? Não pensou na família de ambos? Tamanha falta de consideração! E os amigos? Será que os amigos já sabiam desde sempre? E como ela iria conviver com eles se soubessem de tudo? E, mais uma vez, se perdia no meio de tantas perguntas…

Era uma mente perdida no shopping. Tudo que ouvia eram algumas palavras soltas, trechos das músicas que tocaram, os bipes das senhas dos restaurantes, um burburinho de um grupo de amigos da mesa próxima seguido de algumas risadas (estariam rindo dela?) e aquele menino chorando incontrolavelmente. Não, não iria chorar. Não podia.

Enfim, ele fez um silêncio. Era um alívio! Finalmente, havia parado de falar. Ficou um tempo mudo, olhando para ela e perguntou: “Tudo bem?”. Como assim, tudo bem? Como ele acha que ela ficaria? Bem? Evitando a vontade que tinha de gritar, respondeu com um “tá” para tentar encerrar aquilo tudo. Quando ele perguntou: “Você entendeu tudo?”. Consentiu movimentando a cabeça mesmo sem ter entendido nada além do que realmente importava. Perguntou se ele queria dizer mais alguma coisa e saiu, com a cabeça erguida. Orgulhosa, foi embora sem olhar para trás e satisfeita de ter superado tudo. Como uma mulher forte deve ser. Como havia aprendido durante toda sua vida.

Chegando em casa então, ela largou as sacolas em um canto, trancou-se no quarto e chorou. Chorou como nunca havia feito.

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Extremos

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Quem diz que todos os dias são iguais não conhece os dias com você e os dias sem você.

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Dicionário: Choro

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Choro

Quando a tristeza é tanta que as lágrimas transbordam.

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Esperando

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Estava tudo pronto.

No apartamento 302 do edifício Amélia, o rádio portátil tocava um CD do Barry White. Sobre um castiçal de ferro fundido em forma de galhos, havia duas velas acesas que iluminava, à meia-luz, a sala de dois ambientes. Acesa mesmo estava apenas a luminária da varanda por trás das cortinas em tons pastéis. Em lados opostos, dois pratos transparentes em cima da mesa. Cada um com seus respectivos talheres bem posicionados.

Uma pequena fresta na janela do quarto permitia entrar uma brisa que amenizava o clima quente da capital. No ar, pairava o cheiro de manjericão utilizado para temperar o molho que se confundia com o do incenso de lojas de conveniência que ainda queimava lentamente no aparador. O prato principal seria um talharim al dente que ele mesmo inventou. Algumas rosas vermelhas pendiam de dentro de uma jarra ao lado do castiçal. Havia também, pétalas espalhadas por ali, percorrendo todo o corredor que dava até o quarto.

Lençóis de mil fios de cor azul turquesa estavam estirados sobre a cama com algumas almofadas de tecido egípcio. Na parede, vários bilhetinhos escritos com caneta especial que só seria possível ler quando as velas do quarto fossem acesas.

Estava tudo pronto. Cada detalhe, cada mínimo detalhe, mas ela não iria aparecer. Como nunca apareceu. Era a oitava vez que ele arrumava tudo, com todo cuidado possível e ela não iria aparecer. E ele sabia disso. Mas, mesmo assim, fazia.

Há oito anos, ele fez tudo igual, desse mesmo jeito. Seria a primeira vez dela, mas não foi. Um caminhão baú carregado de móveis perdeu o freio na ladeira da Presidente Neves. No caminho, parado no semáforo à frente, estava o carro dela. A caminho, estava ela.

Sabia que isso nunca mais a traria de volta. Alguns diziam que ele gostava de viver muito no passado, de ficar preso nas memórias. Sugeriram que ele procurasse alguma ajuda, mas foi com esse ato que encontrou a melhor forma de mantê-la viva. Ele saberia que ela realmente nunca mais iria aparecer, mas era como se, deixando tudo pronto exatamente da mesma forma, ele pudesse todos os anos permitir que o futuro continuasse incerto, um novo ciclo. Na sua memória, aquele instante ainda continuaria vivo e indefinido.

Aquele exato instante, em que ele a esperava e ela se foi. Para sempre.

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Esperar é ter esperança.

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Dicionário: Lágrima

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Lágrima

Tristeza que adquire forma líquida para lavar a alma.

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Hoje Não

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Amanhã fico triste… Amanhã!
Hoje não… Hoje fico alegre!
E todos os dias,
por mais amargos que sejam,
eu digo:
Amanhã fico triste, hoje não.

(Poema encontrado na parede de um dos dormitórios de crianças do campo de extermínio nazista de Auschwitz)
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Dicionário: Saudade

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Saudade

Palavra ingrata que aumenta a distância e aperta o coração.

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Regresso

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A vida
Uma eterna contagem
Regressiva

Com você
Reaprendi a amar
Quero te encontrar

E quando você partir
Hei de pedir
Quero amanhãs com gosto de ontem

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